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“Por que a neve
cai?”
“Ela neva para
mascarar Sua eterna tristeza.”
“Por que o rio
flui?”
“Ele flui para
carregar aqueles que morreram pacificamente aos seus lugares de descanso
final.”
“Por que o
Pêndulo balança?”
“Ele balança
por cada alma perdida que viu sua libertação final. Permita-me lhe contar sua
história.”
O
inverno foi embora com os meses, e chegamos àquele delicado tempo do ano quando
a neve finalmente para de cair, mas a chuva do início da primavera ainda não
veio. As ruas de Manhattan estavam nuas, e a cor estava apenas começando a
retornar até mesmo para essa selva de concreto. Vermelhos e verdes estavam
começando a se destacar mais, agora que as garras ferozes de Janeiro e de Fevereiro
tinham ido embora.
O
único ponto onde a cor se recusava a voltar era na figura de uma mulher branca
parada na rua sob um complexo de apartamentos. A mensagem talhada na parede de
tijolos atrás dela tinha se desgastado. O apartamento logo acima, que pertencera
a um jovem homem tolo, havia sido limpo. Os novos inquilinos já tinham se
mudado.
Conforme
o mundo continuara a se mover, ela aguardou. Enquanto ela esperasse, ele viria.
Horas se tornaram dias, que se tornaram semanas. Até que finalmente, o dia em
que sua paciência foi recompensada chegara.
Um
jovem a abordou, também vestido com uma túnica branca, similar à dela. O tolo
por si só já não mais existia. O homem que se prostrou diante dela era o
Portador da Libertação, e nada mais. Mesmo que ele pareça a mesma pessoa de
antes, seus olhos não mostravam ingenuidade e nem compaixão, mas apenas um
toque do que ele guardava em seu coração. Um conhecimento sem limites, e um
medo indeterminado.
“Você é o
Portador da Libertação?” ela perguntou, ecoando as palavras anteriormente ditas para
ela por Jules Quincy.
Ele
respondeu em seguida, “A Libertação só é
realizada para aqueles que assim a mereceram.”
Ele
não a conduziu até o rio, como ela o teria feito nessa situação. Ao invés
disso, ele assentiu com a cabeça e retirou o Pêndulo diretamente de seu bolso.
“Você veio por
isso, não foi?”
Ela
hesitou, antes de estender suas mãos como um pedinte. “Apenas quero ter certeza.”
Libertação
a observou de cima a baixo impassivelmente, e num ato jamais mencionado anteriormente por Seekers,
o Portador colocou o Objeto na palma de suas mãos delicadamente, a corrente
prateada se enrolando ao redor do pingente em formato de diamante.
Ele
esperou, observando-a com atenção. Por um momento, uma faísca de desejo brilhou
nos olhos dela, e seus dedos se fecharam ao redor do Objeto, envolvendo-o. Então,
ela fechou os olhos e deu um longo suspiro. Ela apertou fortemente o Pêndulo em
sua mão antes de entregá-lo de volta para a Libertação.
Se
ele ainda fosse o mesmo garoto, ele teria agradecido a ela, ou lhe desejado o
melhor. Ao invés disso, Libertação meramente balançou sua cabeça com uma
expressão estranha em seu rosto. Uma que ela não conseguia ler. Era o rosto de
um Portador, a face de um mundo do qual ela havia sido liberta.
“Você não irá mais
me encontrar aqui.”
“Não,” ela disse com
firmeza, “não irei.”
O
Portador da Libertação se aproximou da parede e fez abrir a cicatriz negra. Água
oleosa, preta, verteu da base do corte e cruzou o chão, manchando o concreto.
Sem olhar uma segunda vez para a mulher, o homem pisou dentro da cicatriz, deixando-a
fechar rapidamente atrás de si. A parede estava ilesa, sem marcas, e no instante
seguinte, a água preta já tinha desaparecido.
Ela
não sabia para onde devia ir agora, mas não se sentia mais tão perdida. Antes,
apenas o Pêndulo importava para ela. Agora, havia tudo. Embora o mundo
estivesse retornando às cores, ela permaneceu como uma mancha branca, uma
lembrança do inverno que havia passado.
“Isso nem
sempre segue a fórmula.”
Traduzido por: Milena
Original: The Holders
Legal
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