[Um capítulo de O Portador da Libertação.]
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registro de mensagem.
Data de acesso:
16-Dec-08
JuiQui –
09/11/08 (Dom)
Definitivamente
preciso de alguma informação.
Pelo último par
de semanas, algo tem me seguido. Tem feito um bom trabalho ao tentar fazê-lo
sem que eu perceba. No entanto, consegui ter contato com ele duas vezes ontem.
Descreverei esses incidentes no maior número de detalhes que eu puder oferecer.
Estava no banho
e tinha a cortina minimamente aberta. Enquanto estava dentro da água, observava
uma revista aberta no chão, do lado de fora da banheira. No canto do meu olho,
notei que havia uma perna. Vestida numa roupa clara e mantendo-se numa posição
que me permitia ver parte do joelho para baixo. Assim que a percebi, ela deu um
único passo e entrou para trás da cortina. Entrei em pânico e a abri, apenas
para descobrir que não havia nada lá. Saí do banho e sentei em meu quarto com
as luzes acesas. A emoção que eu sentia não era bem de um medo genuíno, mas que
eu precisava fugir.
De acordo com o
que eu pensei depois, diria que parecia feminina pela forma que ela tinha. E
ainda mais estranho, a perna era totalmente branca. Tão branca quanto a neve.
Nessa noite, eu
estava dormindo intranquilo quando pensei ter ouvido algo em meu ouvido. No meu
sonho, soou como: “conte-me onde ele está, ladrão”. Acordei num susto e olhei
ao meu redor, mas não conseguia ver nada em meu quarto. Mas quando acendi as
luzes, havia vários fios longos de um cabelo branco em meus lençóis.
Por que está me
seguindo? Preciso de toda informação que eu puder lembrar das coisas que cabem
na descrição que dei. Tenho procurado sozinho, mas não consigo encontrar nada
importante.
Undertow –
14/11/08 (Sex)
O que é que
você tem e que ela quer?
Branca
de Neve caminha quietamente pela neve no jardim, mal deixando um caminho atrás
de seu robe branco. Não chão à sua frente, o corpo de Alley jaz estendido, seus
olhos abertos, e a neve ao redor de sua cabeça tingida de vermelho.
Encurvando-me
para observar o seu corpo, encontro o olhar da mulher. Ela me encara de maneira
inexpressiva e começa a caminhar em direção ao corpo, fazendo eu me afastar
apressadamente.
“Ele
está morto,” eu digo. Ela me ignora e se curva por sobre o cadáver de Allen, vasculhando
em cada um de seus bolsos sem preocupações, sem emoções, verificando por último
o bolso vazio da frente de sua camisa.
Observo
com desconforto, meu coração batendo rapidamente e meu sangue fervendo. Um
floco de neve pousa na minha bochecha, e me surpreendo com a gota gelada
descendo pelo meu rosto.
Ela
olha para mim. “Onde você o escondeu?”
Resisto
à urgência de olhar para o lugar onde escondi o Pêndulo e pelo contrário, tento
encontrar o seu olhar intencionalmente. Ao não obter a minha resposta, ela se
levanta e caminha para perto de mim. Meu coração bate ainda mais rápido com
cada passo que ela dá. Está muito perto de mim agora. Posso ver os flocos de
neve caindo entre os poucos centímetros que nos separam. Eventualmente, minha
resistência termina e dou alguns passos apressados para trás.
“Por
que você quer aquela coisa, de qualquer maneira?” eu pergunto. Seu olhar
continua a me perfurar. Se o que ela quer é me fazer ceder, não vai conseguir.
Continuo a me afastar pelo jardim invernal morto. Um carvalho paira sobre nós
como um espectador silencioso.
“Sei
o que você é. É uma Portadora. É por isso que você está procurando por Ele.
Descobri tudo! Um Seeker o tirou de você, e agora o quer de volta. Faz sentido,
suponho. Mas o que acontecerá quando o tiver de volta?” Não há resposta.
“Voltará a viver em seu mundo, e o guardará para todo o sempre? Qual o sentido
disso? É assim que você quer viver?”
Posso
ver seus olhos se estreitarem levemente. Mas agora que comecei, não posso
parar. “Okay. Entendo que eu não sei tudo sobre os Portadores, os Seekers e os
Objetos. Sou ingênuo, e tolo, e todo esse tipo de coisa. E daí? Talvez seja
necessário um tolo para ver que o que você está fazendo não irá te ajudar em
nada. Eu sei que o Objeto está te consumindo!”
Sei
por que ela tinha que estar atrás do Pêndulo. Ela não é mais um Portador, na
verdade. Ela voltou a ser um Seeker, e nada poderia pará-la. Não há o que parar
os Seekers de conseguirem o que eles buscam, nem mesmo assassinato.
Uma
gota de sangue escorre pelo meu dedo na neve logo abaixo, manchando-a de
vermelho. O sangue em minhas mãos deixa um rastro pelo chão, que leva a um
caminho até o corpo de Allen, ainda caído num ângulo estranho. Este homem
esteve aferroado aos Objetos até o seu último suspiro. Ele morreu pelas minhas
mãos.
Sinto
um aperto em minha garganta, e meus olhos começam a se encher de água. Quando
foi que tudo começou a dar errado? Isso não é algo que eu faria! Caio sobre
meus joelhos na neve, contemplando o cadáver. O que meus pais diriam? Que
diabos eu fiz?!
Não
posso aceitar isso. Mesmo que num recanto da minha mente eu tenha consciência
de ser um verdadeiro Seeker agora, não posso aceitar. Não está certo. Não é
desse jeito que as coisas devam acontecer. Todos têm o direito de procurar pela
felicidade, sem exceções. É nisso que eu sempre acreditei. É por isso que eu
dei tão duro para ser um ator. Eu tive sonhos. Não foi por isso que tenho
estado nessa jornada, não percorri todo esse caminho para jogar fora os meus
sonhos!
“Eu
entendo.” Meus olhos se voltam para o chão nevado. “Entendo por que você veio
até aqui. Mas não deveria ser desse jeito. Você deve ter uma vida sem Objetos,
Portadores e Seekers. Ninguém merece esse inferno. Você precisa ser livre. Eu
te imploro... não me importa se te fará me odiar, mas deixe-me ter o Pêndulo,
assim você não precisará mais dele.”
Um
monte de neve que repousava no galho da árvore escorrega e cai no chão num
baque suave. Ele deixa um rastro que cintila inocentemente no ar. Posso ouvir
Branca de Neve começar a se mover agora, em minha direção. Não consigo levantar
meus olhos para vê-la.
“É
tarde demais para mim, mas ainda posso te salvar. Entendo a sua dor.”
“Você não
entende nada.”
Olho
para cima a tempo de ver os seus dedos envolverem o meu pescoço como um
torniquete.
Muito bom
ResponderExcluirAgradecemos a sua apreciação *-*
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