Vinget-et-un

[Tenha a certeza de ter lido "Breu" antes de ler este conto]

[Capítulo Inicial]

- Acabou?

Eu estava ali, na cave do edifício Indústrias A.G. Lab. do Oriente, mãos acima da minha cabeça de uma forma instintiva. Derrick Todd ficou atrás de uma das mesas perto de todos os equipamentos, a mesa vazia, exceto por um grande livro encadernado. As máquinas todas em silêncio, mas um barulho baixo vindo do buraco na parede quebrou o silêncio. Derrick estava ali, com um jaleco sobre sua roupa, o revólver apontado para mim.

- Acabou? - ele repetiu, apontando para o buraco. - Tudo que seu pai e eu tínhamos planejado, está feito. 

- Calma, abaixe a arma e vamos conversar - pedi, mas ele simplesmente balançou a cabeça.

- É tarde demais para isso. Você sabe demais. Me desculpe, mas você não sairá daqui viva.

- Então você veio até aqui apenas para me matar?

- Você não tem ideia do que eu passei para chegar aqui. As vidas que custou, o trabalho que tivemos, você não tem ideia do sacrifício necessário para chegar onde estamos. - Ele balançou a cabeça - Não, você não sabe. Então, não me diga o que devo fazer agora. 

- Valeu a pena ? Perguntei. - pensei que ele puxaria o gatilho nesse mesmo instante. Mas ele não o fez. 

- Você quer saber o que fizemos? - ele apontou para uma cadeira próxima. Me sentei, mas ele não baixou a arma - Seu pai e eu trabalhamos juntos por um longo tempo. Nós pesquisamos sobre os Seekers, Objetos, Portadores, mas depois de algum tempo, a nossa atenção foi atraída para uma nova ameaça; as criaturas pretas. Paramos todas as nossas pesquisas a fim de encontrar mais informações sobre essas criaturas. Descobrimos que eles foram atraídos pelos Objetos, e viriam aqui para levá-los, matando tudo o que estivesse em seu caminho. Eles eram raros, e quase sempre bem sucedidos em suas atividades. Nós aprendemos que você pode matá-los, era difícil, mas possível. 

Todo o resto ainda era um mistério; de onde vieram, por que eles fizeram isso, e onde eles iriam atacar na próxima vez. Foi um trabalho árduo, mas não desistimos, mesmo quando pareceu que não podíamos fazer mais nada. Então, depois de muito tempo na estaca zero, estávamos prontos para desistir, mas recebemos uma carta. A carta dizia que o escritor estava interessado em nosso trabalho, e queria ajudar. A mesma dizia para que olhássemos mais de perto um Objeto especifico, o Objeto de número 142; A Pena do Equilíbrio. 

Passamos semanas tentando descobrir o que aquilo significava. Encontramos o Seeker que deveria estar com o tal Objeto, mas foi uma busca em vão. Este Seeker perdeu o Objeto depois de bater seu carro. Este Seeker só pode pensar que outro Seeker tivesse provocado aquele acidente no intuito de obter o seu Objeto, porém, depois de nos contar detalhes sobre o ocorrido, foi que compreendemos; uma imensa quantidade de óleo estava espalhado pelo local do acidente, todos pensaram que fosse do carro. Mas não era.

As criaturas levaram o Objeto e, quando voltaram de onde vieram, o Objeto voltaria a posse de seu Portador Original. Era uma espécie de sistema de reciclagem. Claro, esse não era o objetivo principal das criaturas, e nós nem sequer sabíamos se as próprias criaturas estavam conscientes disso mas, de qualquer forma, elas estavam conseguindo cumprir seu papel. 

Então Rockwell apareceu. Ele era o autor da carta, e nos contou que estava estudando os fatos há algum tempo. Ele nos contou sobre a sua empresa, e de seus planos para obter alguns dos Objetos mais perigosos. Assim, ele nos trouxe até aqui, e nós começamos a trabalhar nisso. - Ele apontou para o buraco negro na parede - Estranhamente bonito não é? 

- O que diabos é isso? - perguntei. 

- Olhe mais de perto.

Quando o fiz, notei que o buraco foi revestido com uma comprida corrente de ferro.

- É um objeto? - perguntei.

Derrick riu. 

- Não é qualquer Objeto, Rockwell me disse que levou anos para encontrar isso. Esse é um dos Objetos da Legião. 

Fiquei chocada. Eu sempre pensei que os Objetos da Legião tivessem sido destruídos ou perdidos. 

- Esse foi um dos motivos para que nos uníssemos a Rockwell. Ele acreditava que se o homem fosse capaz de encontrar um Objeto da Legião, poderiam ir muito além. Mas eu e seu pai nunca soubemos o quanto Rockwell realmente fez para consegui-lo. Então começamos a trabalhar. - Ele pegou o livro que estava sobre a mesa. - Nós nem sequer sabemos o seu número ou o nome de seu Portador. - Ele jogou o livro para mim - Leia-o. 

Abri o livro. Ele estava cheio de personagens e escritas estranhas e acabava em cerca de vinte páginas.

- Eu não consigo ler isso. 

- Mas seu pai conseguiu. E, com isso, fizemos tudo o que tornou esta noite possível. 

Fechei o livro e voltei a olhar para ele. 

- Então... se você ainda não me matou... significa que ainda precisa de mim? 

Dizer isso fez com que seu sorriso desaparecesse. 

- Você não deveria ser necessária assim, mas nós faremos o que for necessário para reconfigurar o portal, não podemos nos dar ao luxo de falhar e ter de começar tudo de novo. 

- Portal? - questionei. 

- Sim, essa é a habilidade deste Objeto. 

- Um portal para onde? 

- As criaturas do outro lado tentariam matar qualquer coisa que chegasse muito perto - ele desconversou não me respondendo - exceto você. O que aconteceu com você naquela noite com o seu pai fez com que você ficasse imune às criaturas. Eles não tentam te machucar.

- Então o plano de vocês funcionará? 

Todd ficou tenso novamente. 

- Ao custo de vida de muitas pessoas, sim, sim, sim. Porém, Rockwell nunca nos contou seu real motivo para tudo o que nós fizemos. Ele nos usou, usou nossa pesquisa. Aposto que ele queria algo que está lá, do outro lado. Mas ele nunca foi para lá com a gente. Rockwell não é como você e eu, e eu espero que ele não tenha encontrado ainda o que estava procurando. Às vezes eu ach - o barulho vindo do portal ficou mais alto.

Derrick instintivamente virou o seu revolver em direção ao portal. De repente, algo saiu. Algo com um terno preto e um sorriso forçado. 

...Rockwell...

[A história continua em: Quase Humano]

[Capítulo Inicial]