- Hey, até que enfim chegou, achei que você teria que me esperar, já que me atrasei um pouco, mas você demorou muito, tanto que achei que não viria, que iria amarelar. Porque demorou tanto?
- Ehh...

- Ah, deixa pra lá. Vamos entrar logo, abrir aquele tumulo e pegar a joia daquela velha bruxa. Quero ver nos chamarem de frangotes agora.

Marcos caminhou em direção ao portão daquele cemitério pronto para pulá-lo, Ricardo estava logo atrás dele com uma cara de espanto e medo.

- Vamos, me ajude aqui Rique. 
- Ahn.

Marcos pulou o portão e, em seguida, ajudou Ricardo a pular também.

- Que foi cara, porquê você tá tão quieto? - disse Marcos colocando a mão sobre o ombro de Rique. Percebeu então que seu amigo estava tremendo. 

- Agh...
- Calma amigo, eu sei que você tá com medo mas não precisa ter. Esse negócio de bruxaria não existe, além do mais ela já tá morta, o que pode fazer? 

-Hugh...

Marcos percebeu que seu amigo estava meio estranho, então resolveu agir rápido, porque, mesmo dizendo para não ter medo, era exatamente o que ele sentia naquele momento, apenas queria parecer forte para seu amigo, e para todos.

Os dois garotos tinham preparado tudo para essa noite. Marcos trouxe consigo todas as ferramentas necessárias para abrir o tumulo da bruxa. Eles apenas deveriam encontra-lo em meio aquela escuridão e com apenas a fraca luz gerada por suas lanternas vagabundas.

- Cara, não consigo ver nada direito, você lembra em que direção ficava o tumulo da velha?

O silêncio correu o ar ao seu redor.

- Rique? Cadê você.

Marcos parou apontando sua lanterna para todos os lados, Rique não estava mais ali, apenas sua lanterna desligada caída no chão. 

- Maldito cagão. Pode deixar que eu faço isso sozinho. Seu merda fraco. 

Marcos continuou a procurar o tumulo, mas aquele local parecia um labirinto à noite. Alguns sons de galhos assustaram o pobre menino, mas ele decidiu encarar tais barulhos como resultantes da leve brisa do vento que o atingia.

- Ah, finalmente encontrei!

E, depois de tirar de sua bolsa algumas ferramentas, percebeu que o cadeado que trancava o tumulo já estava rompido, e em sua mente veio a certeza de que lá era o tumulo da lenda de sua cidade: Vera, a bruxa. 

- Acho que o Rique esteve aqui antes de mim, mas vou entrar mesmo assim, parece que ele não teve coragem de ir mais além.

Ele caminhou para dentro do tumulo e se aproximou do caixão que para sua surpresa também estava meio aberto. Um cheiro de coisa velha, estragada, uma mistura de cheiros estranhos, tomou conta daquele pequeno cubículo onde se encontrava o caixão.

- Menos trabalho pra mim, vou só empurrar a tampa e pegar o colar que tá no pescoço dela.

Sim, era isso que o Marcos achava, era o que seus amigos que o desafiaram achavam. Marcos e Ricardo eram zoados na escola desde pequenos, eles eram considerados os mais fracos, os nerds e sempre apanhavam. Até que Marcos se cansou de ser tão humilhado. Marcos desafiou os valentões da escola fazendo a seguinte proposta:

"Nós dois iremos ao tumulo de Vera, a bruxa, e pegaremos dela o colar que está em seu pescoço. Se fizermos isso vocês deverão parar de nos encher, deverão nos deixar em paz". 

Mas, caso eles não conseguissem apanhar aquele colar, levariam a maior surra de toda a sua vida. 

Segundo a lenda que ronda a cidadezinha, há cerca de 500 anos atrás, houve um imenso massacre de crianças e que foi muito difícil identificar quem era o autor de tais atos horrendos. A Igreja acreditava ser algo proveniente de Bruxas ou Satanistas e, eles estavam certos. Vera, a filha da curandeira da cidade foi pega em flagrante tentando raptar uma criança. Ela só foi descoberta porque a criança conseguiu retirar a mordaça de sua boca e gritou como nunca. 

A mãe de Vera ao descobrir dos atos da filha não pôde aguentar, o desgosto foi tanto que ela veio a falecer. Vera e sua mãe foram salvas pela Igreja quando toda sua aldeia havia sido dizimada por anarquistas que não seguiam uma regra ou religião. 

Vera utilizava seu colar como chave para abrir a "porta do inferno" através de símbolos e rituais, de forma que os demônios pudessem vir e saborear o sangue das crianças, ficando assim cada vez mais fortes. 

Segundo a Igreja, Vera recebeu a proposta de um demônio cujo nome não foi revelado por Vera, mas que ele prometeu trazer todos os que ela amava e que havia perdido na tragédia ocorrida há tempos atrás. 

Vera foi julgada e levada para ser executada em publico enquanto era linchada. Antes de ser enforcada, suas ultimas palavras foram: "Eu vou voltar para terminar meu serviço, só assim serei feliz de novo".

Vera foi enforcada e todos os objetos utilizados por ela nos cultos foram trancados dentro de seu tumulo junto a ela. O tumulo era revestido de tudo o que a Igreja acreditava que afastaria qualquer entidade. E eles conseguiram manter o tumulo livre dessas tentações, até hoje. 

"crack" 

Marcos ouviu o barulho de algo quebrando no chão e logo se virou para trás. Parado lá estava Ricardo. Algo esguichava de Ricardo que molhava Marcos. Ele ergueu a lanterna apontando para seu amigo, então viu: a garganta de Ricardo estava cortada e logo seu corpo caiu no chão.

Marcos sentiu um bafo quente em seu pescoço perto de sua nuca. Seu coração que já estava a mil acelerou mais ainda. Ele virou rapidamente e viu um vulto negro a sua frente. Ele olhou para o caixão, não havia nada lá. Então percebeu pela linda joia brilhando na altura do pescoço daquele vulto, que aquilo era a bruxa, mas foi tarde demais. Não conseguiu fugir.

Nos dois dias seguintes aquela cidade foi dizimada por completo. Agora nela vive apenas Vera e sua família, felizes para sempre enquanto os demônios que passaram pela porta aberta por Vera durante o ritual vagam pela terra. 

Escrito por: Alan Douglas
De: Ler Pode Ser Assustador

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