No capitulo anterior.


[...] Descarregou quase toda munição no Demônio, o corpo parecia receber cada um dos impactos, mas ele continuava avançando com um sorriso no rosto, a última bala foi disparada e, de repente, as luzes do metrô estavam acesas e não havia ninguém na sua frente, nenhuma cápsula no chão, mas arma estava em sua mão...


 Abriu o tambor. Nenhuma bala. De repente percebeu uma poça vermelha encharcando toda a extensão do seu tronco, se depositando no seu colo, onde descansavam as cápsulas deflagradas.
 No seu peito haviam vários buracos. Ele passou então a sentir dor, muita dor, e o sangue esvaindo do seu corpo, seu corpo começou a gelar e ele morreu... ou desmaiou?

Acordou, com a sensação de que tinha sido ressucitado por um desfibrilador; sabia exatamente a sensação porque já tinha passado por isso. Não havia arma, nem cápsulas e muito menos sangue, puxou bastante ar de uma vez na intenção de acalmar os nervos, mas sua tentativa de inspiração profunda foi interrompida por uma voz repentina às suas costas:

Prata!

 Quando percebeu pelo reflexo do vidro, que o homem de terno estava sentado às suas costas, segurando entre os dedos uma cápsula deflagrada da arma, começou a ter um ataque cardíaco

 – Pouca gente tem alergia a prata, uma boa escolha, considerando que você foi alvejado com essas balas... 

 Ele ouviu a voz cada vez mais distante, enquanto perdia o fôlego de vida.
Acordou sentindo novamente como se usassem um desfibrilador para fazer seu coração voltar a bater, mas dessa vez viu exatamente de onde vinha sensação: a mão do Demônio estava pousada em seu ombro e parecia liberar uma potente corrente elétrica sob seu tórax. A ressuscitação estava completa, mas a mão continuava sobre seu ombro. Uma nova corrente elétrica veio e, desta vez, percorreu seu corpo todo. Tinha uma intensidade absurda! O grito de dor era inevitável.  

Opa, desculpe! – a mão insistia em repousar sobre seu ombro – Sabe o que acho mais legal quando me vendem o corpo junto com a alma? É que geralmente não me é permitido ressuscitar. E, ah, isso é muito divertido, matar de várias formas, trazer de volta e repetir tudo de novo. Bem, ainda teremos muito tempo para brincar disso, uma eternidade para ser mais preciso. Agora vou deixar você curtir sua viagem. 

Uma descarga elétrica mais intensa que a anterior provocou um novo grito e fez ele apertar os olhos, mas essa durou uma fração da outra. Quando ele abriu os olhos se percebeu apertado contra a porta do metrô, por inúmeros corpos, os quilos que tinha ganhado ao longo de todos aqueles anos de fartura não estavam ali, seria grato por isso, mas também não vestia as roupas caras, fora tudo um enorme sonho? Pesadelo? 


A caixa de som começou seu habitual anúncio na habitual voz suave e feminina:


Próxima estação: –, mas de repente o som pareceu falhar e a voz se tornou gutural e macabra – Estação Inferno. Estação terminal. O desembarque é obrigatório. O Diabo agradece sua preferência. 


Ele esmurrou a porta com toda força, foi quando percebeu que seu braço simplesmente atravessava os “corpos” alheios. Eram almas, almas a caminho do inferno.


O metrô acelerou, acelerou e acelerou, atingindo uma velocidade inacreditável, até que era impossível para ele manter o equilíbrio. Ignorando as almas, se apressou a tomar assento. Pela janela ele via a escuridão ficando cada vez mais densa, na mesma medida que seu rosto perdia a cor, e tudo isso era acompanhado de um crescente frio sobrenatural, como agulhas de gelo perfurando seu coração. De repente foi como se os trilhos, juntamente com o chão, sumissem, iniciando uma queda vertiginosa, escuridão a dentro. As trevas externas se tornaram tão densas que as lâmpadas lá dentro não davam mais conta de iluminar. Mergulhou no abismo... mergulhou nas trevas... e mergulhou... cada vez mais fundo... seu corpo e mente pareciam estar em lugares distintos, mas ambos flutuavam na escuridão total por algo que se parecia muito com a eternidade. 


Era uma sensação horrível, um torpor sufocante misturado com um desespero aterrador, mas ainda assim era muito preferível ao que vinha a seguir. Passada a “eternidade”, tudo se iluminou numa explosão de luz. Explosão era a palavra! Porque era mais calor do que luz mesmo, como uma mistura de napalm e bomba nuclear. A pele ardia absurdamente e os olhos ficaram cegos. Menos de um segundo depois estava de volta a escuridão, não a mesma de antes, mas suficiente para provocar desespero, porém, neste momento desejaria o torpor de volta. Pois sua pele ainda ardia fazendo-o se contorcer de dor. Não tardou para que o metrô “aterrisasse” com todo impacto e ele fosse lançado através do vidro.
 Chamas rugiam do chão, e todos os tecidos do seu corpo literalmente borbulhavam. Ele repetia com muito esforço o movimento de estender o braço deformado e arrastar para frente a massa disforme que agora era seu corpo: uma tentativa patética de sair dali. Numa olhada para o lado viu Caronte exatamente na mesma situação, mas ele parecia conformado. O Diabo veio caminhando através das chamas como se nada fossem, com seu terno perfeitamente alinhado como sempre. O condenado estendeu o braço mais uma vez, mas nesta ocasião teve sua mão esmagada com um enérgico pisão. Quis gritar, só que sua garganta estava mais seca que um deserto. 

“Abandonai toda esperança, ó vós que entrais!” – gracejou a figura demoníaca, ainda em forma humana. 


Então, o sapato que pisava na mão do homem explodiu quando o pé do “advogado” se agigantou repentinamente, e todo seu corpo rapidamente se transformou, revelando a verdadeira e assombrosa forma de Anjo Caído. Era medonho, pavoroso, indescritível...  


            
Leia o capitulo anterior AQUI.
        

Escrito por: Cayyan C. Menezes
Adaptado por: Camila Cruz
De: Ler Pode Ser Assustador

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2 comentários:

  1. Essa série foi fantástica! Parabéns aos criadores, muito boa :D

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  2. Obrigada por nos acompanhar! o autor Cayyan escreve muito bem.
    Confira nossas outras séries tenho certeza que também vai gostar!

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