No capitulo anterior...


[...]Nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” ...

 Não! Não, não pode ser, então já estou condenado ao inferno? – lágrimas de remorso corriam por seus olhos.

– Sim, já está condenado, está aí A Letra que não me deixa mentir – riu da ironia da própria frase. 

– Vá embora! Vade retro! 

– Vou sim, para te dar um tempo para repensar minha oferta inicial, na verdade deve ter bastante tempo para pensar, uma pena por latrocínio para um matuto qualquer deve dar uns bons anos. Só quero te lembrar que já não tem mais nada a perder no pós-morte, mas ainda tem muito para ganhar em vida. 

Poucos dias depois, ainda aguardando o julgamento ele finalmente se decidiu, faria o Pacto completo, e assim que decidiu o “advogado” apareceu para conversar com ele.

– E aí, resolveu me ajudar a atingir minha meta de almas desse mês? 

– Coisa-ruim, eu vou aceitar seu trato, mas você só pode colher minha alma no dia que era para eu morrer 

Apertaram as mãos. Em seguida, o demônio se aproximou do ouvido dele, confessou que era próprio Diabo e disse-lhe também o dia e situação em que viria buscar a alma dele. 

 Considere esses dados como uma cortesia ou programa de fidelidade, afinal, não é com todos que negocio tantas vezes.

Muitos anos se passaram, e “o homem do campo” já não reconheceria uma vaca leiteira nem se ela mugisse – ou tossisse – na cara dele.
 Era agora um poderosíssimo magnata. Finalmente chegara o dia que, desde seu nascimento, estava determinado para ele morrer, segundo revelara-lhe o Diabo. E ele lembrava até hoje as palavras que descreviam a situação em que o Canhoto viria buscar sua parte do acordo:
Você estará sozinho, voltando para casa, claro que Caronte estará conduzindo, mas você vai estar tão sozinho quanto desejou no primeiro dia que te encontrei, com o ar-condicionado todo para si. Exatamente como imaginou naquele dia”.

 Ele deu uma festa em uma de suas boates, queria aproveitar bem seu último dia de vida. Na hora de voltar para sua mansão, tentou pedir carona e oferecer carona, tudo para contornar a profecia, mas o que ele dizia era tomado como piada por seus amigos milionários e até pelos funcionários. Então lhe ocorreu uma ideia doida: dispensou Caronte – o motorista que continuava com ele até hoje e, curiosamente, não tinha envelhecido nem um pouco; ele teorizava que era um demônio materializado – e resolveu usar o metrô. Nunca poderia estar sozinho se usasse o metrô, e Caronte não estaria conduzindo. Era perfeito!

Despedido todos os convidados, ele foi para a estação mais próxima e desceu as escadas. A estação estava estranhamente vazia. O metrô chegou logo, entrou no vagão, todos os lugares vagos, se sentou em um qualquer, mas então se deu conta do que tudo aquilo significava.
As luzes piscaram e, na última vez que reacenderam, um homem de terno se materializou em frente a porta que dividia os vagões. Era assustadoramente o mesmo (apesar de passados os anos), era o próprio  Diabo.

– Sabe o que é engraçado? Muitas vezes já ouvi dizerem que o metrô é uma filial do inferno – gargalhou. Mas não deu sequer um passo a frente.

– OK, estou sozinho no vagão e como me lembrei, um pouco tarde demais: estou exatamente como imaginei aquele primeiro dia que te encontrei. Com o vagão só para mim. Mas tem uma falha na sua “profecia”. - Ele temia bastante aquele dia, pensava que o Diabo viria em sua forma real, mas aquele homem de terno era uma figura banal demais para ele, já tinham conversado e negociado, por isso, mesmo naquela situação mantinha pose – A falha na sua profecia é meu motorista Caronte.

– Sempre chamei Caronte de condutor, ao invés de motorista, e não foi a toa, ele não era apenas seu motorista em vida, ele é o condutor de almas, e no seu caso o corpo, para o Inferno. Naturalmente Caronte é só um codinome, tirado do nome do barqueiro do inferno da mitologia grega. De fato, este homem é mais um condenado como você, mais um grande tolo que vendeu não só alma como o corpo. Deve ter notado que ele não envelhece. Mas fique tranquilo, nunca uso meus brinquedos da mesma forma, e você eu vou deixar envelhecer até os limites.

Finalmente o Diabo começou caminhar em sua direção e ele exalava uma pesada aura demoníaca. A calma que o magnata tinha recuperado quando viu o homem de terno tinha agora se esvaído por completo. As luzes voltaram a piscar, cada vez que elas reacendiam ele aparecia em um lugar diferente. Perigosamente mais próximo a cada piscar das lâmpadas. O milionário ainda sentado na cadeira, mesmo com o corpo tomado por uma absurda tremedeira conseguiu retirar um revólver do bolso, as balas eram de prata – quando mandou forjar essas balas ele não sabia se faria alguma diferença, mas, para ele, realmente, não custava nada tentar – descarregou quase toda munição no Demônio, o corpo parecia receber cada um dos impactos, mas ele continuava avançando com um sorriso no rosto, a última bala foi disparada e, de repente, as luzes do metrô estavam acesas e não havia ninguém na sua frente, nenhuma cápsula no chão, mas arma estava em sua mão.


Continua....

Leia o capitulo anterior AQUI.


Escrito por: Cayyan C. Menezes
Adaptado por: Camila Cruz
De: Ler Pode Ser Assustador

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