20/07/2017

Mais um dia começa, e mais uma vez estou indisposta.
Arrumo minha bolsa e calço os sapatos.
O barulho do salto médio me dá nos nervos.

Sentada atrás de uma mesa com a tela do PC na minha frente, digitando e ignorando...
 Sei que ele me olha , mas, ele não pode me tocar se eu o ignorar.

21/07/2017

Meu dia começa de novo.

Onde deixei meu casaco? Está frio lá fora.

Sentada, vejo a porta do escritório, ele está lá novamente. Só que parece sorrir... sorrir com aquela boca podre, os cabelos  caindo nos ombros e se soltando a medida de que seu toráx se mexe em um impulso de respiração mas sem inalar nenhuma partícula da fumaça negra que o cerca.

22/07/2017

Não quero levantar, não quero vê- lo novamente, não quero sentir aquele cheiro nojento e podre.

Ontem percebi que a cada hora e dia que passa ele chega mais perto.

As pessoas passam no corredor e fingem não o ver , fingem não sentir... ou realmente não estão vendo?

23/07/2017

Estou sentada em minha mesa tentando me distrair... ele sorri...

Não aguento mais...
Ele está bem a minha frente e me diz para ficar quieta...

Preciso sair, mas,  que porra e essa?

Onde... mas...

Ele sumiu, cadê ele? Embora ele não esteja aqui eu sinto sua presença... seu cheiro... seu gosto...

Espera... GOSTO???

Quando olho para baixo ele está entre minhas pernas com a mão nojenta putrida em minha boca, ele ri freneticamente, eu não sei o que fazer, sinto algo escorrer dentro da minha boca, algo se aloja ma minha garganta.

Ele ri e se afasta.

Sumiu.

As pessoas andam pelos corredores e estão no mesmo estado putrído. Corro, corro o mais rápido que posso daquele prédio horrendo.
Não aguento mais, tenho que dar um fim nisso.
Os elevadores tem sangue para todos os lados e a medida que olho para objetos no chão percebo que são crianças.

Todas umas sobre as outras, a visão é perturbadora.

Quero sair e dar um fim nisso tudo. É isso...  um fim!

20/07/2017

Mais um dia começa, e mais uma vez estou indisposta. Arrumo minha bolsa e calço meus sapatos.

Mais uma vez o pesadelo. Sempre o mesmo.

Volto para a minha mesa, sento na frente do meu PC.
Faço os relatórios dos corpos que saem da UTI desse hospital direto para o necrotério.

Odeio meu trabalho!


Escrito por : Camila Cruz
De: Ler Pode Ser Assustador

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