Estava tão próxima das chamas que ardiam meus olhos, mas não podia evitar encará-las. O fogo devora tudo com tanta ferocidade, impiedosamente, sem ver barreiras ou limites. Meu ódio avassalador é semelhante ao fogo. Só que ao contrário do fogo, nem um balde de água, nem um objeto grande jogado por cima dele o apagará. O meu ódio é um fogo que não se extingue. E suas cores vibrantes variando de vermelho a laranja me fascinam, é como a alvorada ou o pôr do sol. Quase é capaz de acalmar meu pobre coração ferido. O coração ferido de uma mulher é assim mesmo. Queremos encontrar a tranquilidade, mas chega uma hora que não podemos mais ignorar.
Eu estaria mentindo se dissesse que não sabia que ele estava me traindo.
Mas, nossos olhos negam o que nosso coração não quer ver.
E quando eu resolvi abrir meus olhos e enxergar a realidade, já era tarde demais.
Não é lindo, a maneira como o papel vira cinzas negras em apenas uns poucos segundos? Foi exatamente assim que aconteceu conosco, meu amor. Bastou apenas uns segundos para que estragasse tudo, para que transformasse nosso relacionamento em cinzas. É por isso que agora queimo nossas lembranças: nossas fotos juntos, suas cartinhas de amor, até mesmo listas de mercado. Não quero mais nada que lembre você.
Os tecidos demoram mais para carbonizar, ainda sim, viram um negrume e se desfazem em nada como acontece com os papeis, afinal, são feitos da mesma coisa. Você, meu bem, e aquela vadia também são iguais, lixo do mesmo saco, só de imaginar vocês dois falando mal de mim pelas costas enquanto fazem obscenidades já me dá vontade de vomitar. Tomara que tenha feito bom proveito da última vez em que a viu. Mas, mesmo que não tenha feito, não se preocupe, logo se verão novamente.
Nossa, essa fumaça está começando a feder. Nem suas roupas valem nada. Não sobrou nada das suas queridas roupas, nem pó, nem cinzas. E por último, mas não menos importante, jogo meu vestido de noiva e meu véu que voa para fora da fogueira como uma fênix. Tudo bem, pode voar. Onde quer que esteja, eu irei lhe alcançar e lhe atirar ao fogo novamente.
Enquanto as chamas queimam, a fumaça se espalha, o vento sopra, vou revivendo nossas lembranças. Nosso primeiro encontro, nosso primeiro beijo, nossa primeira noite de amor, nosso casamento perfeito, nossa vida perfeita. Foi tudo uma mentira. Mesmo que naqueles momentos tenha sido verdade, agora é uma mentira. E eu não sou uma pessoa de me apegar ao passado, prefiro viver o presente. O que está feito está feito. Meus olhos ardem e as lágrimas escorrem, é pelo fogo, por amor ou arrependimento? É adeus, meu amor. Até nunca mais.
Enquanto o fogo continua a queimar, mostrando imagens de uma vida que se foi, tento dar um jeito de me livrar de seu corpo, pois sua vida já lhe foi tirada no dia em que resolveu me trair. Eu poderia ter te perdoado, mas você continuou mentindo. Não gosto de mentiras. Mas Satanás sim. Faça companhia a ele no inferno.
Mande um “oi” por mim meu querido. Quando morrer sei que é pra lá que eu vou. E se lhe encontrar de novo, te mato outra vez. Mas não nos precipitemos, como disse, prefiro o presente. E atualmente, é como se você nunca tivesse existido. Olhe só nossa casa, consegue ver aqui algo que lhe pertence? Não? É porque tudo já foi consumido pelo fogo... Não seria justo lhe enterrar junto com as suas coisas?
Mais uma vez, até nunca mais, “meu amorzinho”. Nós vemos no inferno.
Queime. Queime. Queime.
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