[Tenha a certeza de ter lido "O Jogo - Capítulo #2" antes de ler este conto]
[Capitulo Inicial]


O barulho vinha de cima. Só pude ver meu irmão caindo e atingindo em cheio a água do rio, próximo a mim.

- Tudo bem mano?
- Ah, sim, me des - nossa, desde quando ela tem esse corpo tão, tão. Chacoalhei a cabeça para que esse pensamento saísse dela - me desculpe, eu me assustei ao ver isso - apontei para meu braço.

- O que tem demais?
- Não se lembra?

- Lembrar do quê? 
- Eu o havia quebrado! Agora ele está bem, como se eu nunca o tivesse quebrado!

- Deixe-me ver! - agarrei firme o braço dele e olhei cuidadosamente - Impossível. - Apertei de leve - Doeu? 
- Não.

- E agora? - apertei mais forte que antes.
- Não, nenhum pouco.

- dei uma leve torcida no braço dele, antes que eu pudesse dizer algo, ele gritou me empurrando para trás:
- Ai caceta! Agora doeu porra!



Vi seu rosto ficar vermelho.
Vi seu rosto ficar vermelho.

- Me desculpe mana, foi sem querer!

Me virei, tapando meus seios e lá embaixo com as mãos. Cheguei na beira do rio, peguei minhas peças de roupa que havia arremessado ali e as vesti.

- Tome seu banho mano, agora eu vigio.
- Ok. Você não vai subir na árvore? - disse ao ver que ela se sentou em uma das pedras ali perto.

- Não, eu tenho uma boa visão de tudo daqui, e não quero me arriscar com esses galhos fracos.
- Tudo bem então, mana.

Maldito...

A água estava um pouco fria. Retirei minha camisa molhada, esfreguei no rosto e depois no peito. Então afundei ela na água e parei ao ouvir um forte zumbido nos meus ouvidos, e então, cessou.

As pequenas ondulações que a água fazia me chamou a atenção. Ela movia-se de mim para fora, e começou a formar algo parecido com um túnel e tomar movimento, cada vez mais rápido. Os pequenos reflexos da luz da lua formavam riscos e andavam de um lado para o outro no ritmo das batidas de meu coração.

Mas o que diabos está havendo aqui? Olhei para a Bia, a paisagem que nos cercava tomou toda a minha atenção, aqueles milhares de galhos e folhas, todos, derretendo, escorrendo para baixo, para os lados e até para cima, cada pequeno feixe de luz andava loucamente a minha frente, as poucas cores que se podia ver naquela escuridão rodavam em círculos e então paravam, apenas para tomar uma forma geométrica e girar novamente.

- Mana, está vendo isso? - eu finalmente consegui olhar para ela. Sua beleza era demais, nunca havia a visto tão linda assim e então, bugou. Seus olhos começaram a se aproximar, seu rosto a afinar, seu corpo cheio de curvas foi tomando diversas formas engraçadas, e não parava. Não parava.

Eu andei em direção a ela, ela me olhava sem parar, mas não dizia uma única palavra. Até que por fim sai do rio, pisando sobre as milhares de pedrinhas no chão. Olhar para elas, seguido da sensação que senti foi incrível. Deus, o que é isso? Uma forte onda de calor atingiu meu corpo, arrepiando minha espinha. A leve brisa que eu sentia antes de cair na água agora parecia um vento forte, numa velocidade de uns 80Km/h. Eu... eu me sentia andando nú de moto, numa rodovia do deserto embaixo do sol escaldante. As pedrinhas sob meus pés afundavam no chão e voltavam para cima, formando diversas ondulações sincronizadas, e então, elas viraram blocos que subiam e desciam constantemente.

Agora a mana estava na minha frente. Eu olhei pra ela novamente e tentei falar, mas eu estava travado. A voz simplesmente não saía, não sei nem se eu conseguia abrir a boca. E ela continuava a olhar para mim. Seu rosto agora estava normal, então, no instante em que pisquei, vi seu rosto mudar, parecia que era um mosaico formando seu rosto. Virei para o lado afim de que aquela visão se desfizesse, mas não foi isso o que aconteceu. Era como se ela tivesse congelado em meus olhos, e em todo o canto que eu olhava, ela estava lá. Fechei os olhos. Sua feição tornou-se diversos pontos de luz nas mais incríveis cores e começou a girar, juntou-se e se tornou um pequeno ponto redondo de luz num plano de fundo negro, e emitia diversas cores, e então, a dor no meu peito e costas fez com que aquele ponto de luz explodisse como o Big-Bang.

Era como se algo tivesse me acertado.

Senti meu corpo cair, aquela queda até o momento em que meu corpo atingiu o chão pareceu uma viagem de horas. O vento continuava me acertando, o calor continuava a correr por todo meu corpo, e parecia que algo havia atravessado em meu peito.

E realmente tinha.

- Masiho adijof adfo!

Que som estranho foi esse? Pareceu alguém falando algo em uma voz robótica.

- Lucas! Não, não. Fica comigo mano, fica comigo!
- Mana?

Finalmente consegui abrir meus olhos, eu já sabia que estava morrendo, só havia esquecido. Desde aquele instante em que senti a dor, eu soube. A perfeição do rosto de minha irmã me olhava fundo nos olhos. Uma lágrima escorreu em seu rosto e fez um contorno de luz tão lindo. Aquela mesma lágrima caiu atingindo meu peito. Era quente, aquele pequeno toque da lágrima fez com que meu corpo todo estremecesse senti que dei um leve suspiro.

Agora, toda a imagem que eu tinha em minha visão tornou-se um redemoinho, e girou, girou numa mistura de cores, formas, brilho e escuridão. E por fim, parou.

- Ele está morto.

Continua...

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