- Querido, vamos com isso! - Minha esposa gritou para mim.

- Calma amor. Não é todo dia que isso acontece. - Respondi.

Naquela manhã de domingo, quando saí para buscar o jornal, encontrei uma caixa enorme no capacho de casa. Ela estava lacrada com pregos, e endereçada a nós. Elisa, minha esposa, já tinha levantado também e, enquanto ela fazia um excelente café da manhã, eu fiquei analisando aquela caixa.


Ela era grande, muito bem fechada, sem remetente, e apenas com um nome escrito na tampa. "PANDORA". Estranhei quando vi isso, e procurei alguma abertura, ou alguma dica para sabermos pelo menos quem havia enviado.

Quando Elisa pôde sair da cozinha, ela veio me chamar. Eu pensei um pouco, peguei a caixa na mão, e entrei em casa. Larguei ela do lado da mesa da cozinha.

Nossa cozinha era grande. Tinha uma mesa central enorme. Queríamos uma família grande, mas só tivemos uma filha. Uma bancada com apetrechos domésticos fica do lado da janela, que dá para o quintal. Pensávamos que seria bom para cuidar das crianças brincando e se sujando na terra. Mas nossa filha nunca foi de sair muito, e mesmo naqueles dias as crianças preferiam ficar com esses apetrechos eletrônicos. A cozinha era bem decorada, e as paredes era pintadas de branco. Elisa nunca gostou muito de branco. Lembrava ela um trauma de infância.

- Mas o que você está fazendo? - Elisa me perguntou.

- Trazendo a encomenda para dentro, ué.

- Isso eu já vi. Mas por que trouxe para cá?

- E onde mais eu colocaria?

- Sei lá. Na garagem ou até mesmo lá fora. Você nem sabe quem mandou isso!

- Mas mandaram para nós, e eu quero saber o tem dentro daqui o quanto antes.

Elisa balançou a cabeça. O que ela estava preparando tinha um cheiro delicioso. Elisa era linda, desde a primeira vez que eu a vi. Pele morena, olhos verdes, cabelos levemente ondulados. O que eu mais gostava nela, e foi o que me conquistou, foi seu sorriso. Ela era mais baixa que eu e mais magra também. A gravidez não afetou muito seu corpo. Nós nos conhecemos no meu antigo serviço. Ela era a mais nova contratada da empresa, e eu como gerente geral tinha que mostrar como funcionava as coisas. Acho que fui um pouco além disso. Deixei a caixa de lado e abracei ela, beijando seu pescoço. 

- Bruno, estou ocupada, seu teimoso. - Ela falou, mesmo não querendo falar.

Continuei a beijando até que ela virou-se completamente para mim. Olhei nos olhos dela e a beijei arduamente. 

- Eu te amo. 

- Também te amo.

Quando voltamos a nos beijar ouvimos um barulho na passagem da cozinha para a sala.

- Ugh.

Clara, nossa filha havia nos pego. 

- Hey, um dia você fará isso também. - Elisa falou, rindo.

- Não se depender de mim. - Respondi.

Clara apenas balançou a cabeça. Ela já estava se tornando uma adolescente. E para mim, isso era um problema. Clara havia me puxado em quase tudo. Seus olhos e pele eram de sua mãe, mas seu jeito teimoso e seus cabelos lisos eram meus. Quando criança eu costumava mimar muito ela, e hoje eu vejo que cometi vários erros. Estou tentando corrigir isso, mas não posso ir com pressa. Ela está entrando em uma fase complicada, e quero evitar discussões desnecessárias. E garotos que se acham espertinhos também.

- Pai, o que isso ta fazendo aqui no chão? - Ela falou naquele tom típico dessa idade. 

- É uma encomenda para nós. Já já vou abrir.

- Amor, e se isso for alguma sacanagem de alguém da vizinha. - Ela então diminuiu a voz. - E se for algo do Fred, nosso vizinho?

- Aquele cara? Ele não sabe nem amarrar os próprios cadarços sozinho, muito menos pregar peça em alguém.

- Não sei não amor, ele não parece tão bobo assim.

- Você tá superestimando ele. Agora vamos ver o que tem dentro daqui. 

- Humpf. - Elisa bufou. - Então eu vou lavar as mãos. Clara vá lavá-las também.

- Sim mãe. Eu vou depois que você voltar. - Ela falou, arrastando as palavras.

Então eu comecei o processo de abertura da "caixa de pandora". Assim que tirei três dos quatro pregos que a estavam trancando, eu ouvi gritos vindo do corredor. Eram da minha esposa. Corri até lá e fui até o banheiro, onde ela estava. A encontrei sentada no vaso sanitário, assustada e com muito medo. Fui até ela e a abracei com força. 

- Está tudo bem? O que houve? - Perguntei aflito.

Ela não conseguia falar nada. Foi então que percebi que ela olhava aterrorizada para o espelho. Quando virei meu rosto para ver o que era, vi uma imagem distorcida da minha mulher, nos encarando.

Arregalei os olhos e senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Peguei Elisa pelo braço e fomos até a sala. Clara estava lá também, perguntando o que tinha acontecido. Elisa mal conseguia falar. A coloquei sentada num dos sofás.

- Eu não sei Clara. Não sei o que foi aquilo. - Botei minhas mãos nos ombros da Elisa. - Amor, você tá bem? O que houve lá? Elisa?! - Gritei. Ela parecia estar em estado de choque ou algo do gênero. - Clara, vá buscar um copo de água!

Enquanto Clara ia para a cozinha, eu fiquei afagando o rosto de Elisa. Eu perguntava o que tinha acontecido, mas ela não respondia. Apenas ficava me olhando ou encarava o chão. Eu buscava respostas para o que tinha acontecido também. Talvez aquilo fosse apenas uma ilusão, que fazia parte da nossa vida estressada. Talvez tenha sido algum defeito no próprio espelho, ou alguma coisa assim. Só podia ser algo assim. Então não fazia sentido Elisa estar daquele jeito.

Levantei seu rosto com minhas mãos. Ela precisava da minha ajuda. Olhei bem nos olhos dela e falei calmamente:

- Vai ficar tudo bem tá?

Foi quando ouvi gritos da Clara vindos da cozinha.

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