Meu dia-a-dia é extremamente normal, nada de diferente e eu também não almejo modificar minha vida banal.

Acordo todos os dias às 8:00, dou banho na cadela que uiva como se fosse o fim do mundo, às vezes me pergunto se ela não é um gato que finge ser cachorro. Às 9:00 faço o café da manhã: misto quente e um leite puro para mim, ração de cachorro para a cadela.

10:00 sento no sofá com a cadela nos meus pés, acaricio sua cabecinha enquanto ela abana o rabo em minha direção. Ela me ama e eu também a amo, só existe eu e a bondade dela nesse mundo infernal.

Minha cadela adora ler o jornal no meu colo, ela late quando o relógio marca 12:30 para que eu coloque na página de esportes.

13:00 é a hora do almoço, ela senta à minha frente e come toda a comida na sua tigela prateada. A tigela prateada tem o seu nome grifado ''Cadela''. Olho o relógio assim que termino de lavar a louça, a chamo e ela vem correndo. É hora de passear! Coloco a coleira com certa dificuldade já que a felicidade dela é tão grande para finalmente ir na rua que ela me joga no chão e sem querer me arranha. Eu a perdoo, é impossível não perdoa-la.

O passeio na rua não é muito demorado, porém é o suficiente para ela ficar agitada e querer fugir. Quando isso acontece, eu a seguro nos braços com força e dou um tapa em sua coxa. Logo ela chora e pede desculpas, me beija no rosto com a língua e fica tudo bem.

Às 17:00 eu vou à feira local para comprar legumes e guloseimas para a minha amada cadela, quando ela é boazinha até levo alguns presentinhos: gargantilhas diversas, correntes coloridas, ossos e bolas que fazem barulho (ela gosta de morder).

Eu amo a minha cadela e o jeito como ela lambe os meus pés toda vez que eu chego em casa. Ela pula em cima de mim e eu a seguro, apesar de seu porte ser um tanto quanto gigantesco ela é leve e magrinha, fácil de domar.

Minha cadela me desobedece quando chega a hora de descer para o porão. É lá que eu guardo os brinquedos dela e é lá que ela dorme todos os dias. Não deixo animais dormirem na cama, por mais que eu a ame, ela tem que aprender qual é o lugar dela.

Vou a puxando pela escada do porão, ela se debate, tenta me morder, me arranha e grita. Grita, grita, grita, grita. Ela berra tanto que quase perco a paciência.

Na rua começa a chover e a trovoar. Os relâmpagos são a única iluminação que existe no porão. Minha cadela tem a casinha dela para quando está muito frio, eu coloco até mesmo um cobertor limpo e um travesseiro se ela se comportar. Animais tem que saber o seu lugar.

Ela uiva e me bate com as patas enquanto eu tento colocá-la na casinha. São 19:00. Ela está muito nervosa, andando para lá e para cá, correndo atrás do rabo e balançando seus longos pelos da cabeça. Apesar de ser pouco peluda, ela é linda e eu a amo.

É necessário acalmá-la. Os trovões a espantam.

Eu a arrasto para a maca, é lá que eu aplico o calmante. Ela já sabe o que vai acontecer em seguida, por isso balança o corpo inteiro para tentar impedir que eu lhe dê o remédio. Eu digo ''shhh, shh'' e ela berra tanto que parece que sua garganta vai sangrar. Prendo suas patas traseiras e dianteiras. Ela permanece imóvel, as lágrimas escorrem pelo rosto. Ela já não aprendeu que não precisa de escandá-los?

Coloco as mãos em seu pescoço para que ela fique estática. Aplico a injeção e ela vai fechando os olhos lentamente, a respiração fica mais devagar, cada vez mais lenta...

Até que para.

Suspiro.

00:00 carrego seu corpo até o buraco no jardim. É um ritual diário. Simples e prático.

Alguns adolescentes curiosos estão por perto do meu território. Eles ficam tristes quando eu conto a eles que minha cadela morreu. Não tem problema, amanhã eu adoto outra.

Há várias garotas na rua sem dono.




Escrito por: Carla Gabriela
De: Ler Pode Ser Assustador

2 comentários:

  1. Mee... Esse é safadão. Até agora não sei se é uma cadela ou uma cadela mesmo.

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