INÍCIO 2ª TEMPORADA
DIA I
Eu... Ahn.. Não sei bem como começar. Sugeriram que isso seria bom para mim... Gravar e me ouvir falando, para pensar melhor. Bem, eu me chamo Caroline. Tenho 34 anos de idade. Sou casada com um cara que sempre me deu amor. Ele se chama Alberto. Ele é cinco anos mais velho que eu, portanto, tem 39. Tenho uma filha. Ela é meiga, gentil, carinhosa. Ou costumava ser... Ela mudou muito nos últimos meses. Eu não sei o que aconteceu com ela. Levamos ela para todos psicólogos, psiquiatras, médicos, curandeiros, que conhecemos. Nada adiantou. Ela não mudou de novo, e ninguém soube dizer o por quê dela estar assim.
Agora ela fica o dia inteiro em casa, trancada, com as bonecas dela. As pintando. Ela escolhe uma e gasta semanas com ela. Não são pinturas para uma criança de 7 anos. Ela escreve coisas nelas, faz pentagramas, essas coisas. Eu já tentei fazer ela parar com isso, mas quando eu viro as costas ela está lá, de novo, fazendo a mesma coisa com outra boneca. Então ela tem um ataque de raiva, e atira a boneca no chão e começa a espernear e a gritar. É... difícil fazer ela parar... (choro) Eu... Eu não sei o que fazer... Ela está tão estranha... A minha amada Emily... Eu quero ela de volta....
( Fim da gravação. )
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Guilherme rodava o gravador entre as mãos pensativos. Então, o deixou cair sobre a mesa e levou as mãos ao rosto. Ele estava nervoso e estressado. E agora tinha mais um caso para analisar em suas mãos.
- ... Aí a presidiária chega para ele e diz " O que você tá pensando que eu sou? Uma criminosa de meia tigela? Eu exijo meus direitos!". Aí o carcereiro responde: " Você tem o direito de ficar calada".
- Hahahaha!
Gustavo e Vítor estavam de pé, tomando água no bebedouro do lado da mesa de Guilherme e matando tempo.
- Tem como os dois calarem a boca?! - Guilherme falou rudemente para os dois.
- Opa, calma detetive... - Falou Gustavo.
- É... Hoje é sexta e é final de expediente. Amanhã você começa a trabalhar... - Vítor falou rindo.
Guilherme baixou a cabeça novamente. "Bando de inúteis", pensou. Então, Vítor olhou para o relógio e disse:
- Bem, deu nosso horário. Vejo vocês amanhã.
- Eu também vou indo. - Gustavo falou, e depois ironizou: - A aura daqui não está boa.
Ambos saíram rindo, enquanto Guilherme simplesmente ignorou e começou a ajeitar as coisas para ir embora. "Quanta infantilidade para dois policiais", pensou. Quando pegou o gravador em mãos novamente, ele olhou com desconfiança. "Eu sinto que tem algo errado nesse caso", pensou novamente.
Ele estava estressado. Estava trabalhando há meses sem descanso. Apesar da fama de ser um detetive durão e muito bom, ultimamente ele vinha se distanciando bastante durante seus casos. Seu chefe viu que ele estava no seu limite, e resolveu dar as merecidas férias, com uma condição: Que ele resolvesse um último "probleminha".
Era um caso especial. Uma amiga do delegado pediu ajuda, pois sua filha havia sumido. Ela achava que alguém a tinha sequestrado, mas ainda não havia tido contato nenhum com o suposto sequestrador. O objetivo principal de Guilherme era descobrir como e quem havia raptado a garota. E estar atento a possíveis pedidos de resgate.
Acontece que quando Guilherme foi à casa dos pais da garota, ele viu uma cena incomum. No quarto da garotinha, haviam papeis espalhados por todos os lugares. Era papeis antigos. O quarto estava todo bagunçado, e a cor preta de lápis de cera predominava em muitos lugares. Ele achou estranho, afinal, um quarto de uma garota de 7 anos não costuma ser assim. Havia um gravador e um bloco de notas em cima da cama da garota.
Quando ele indagou para a Caroline, mãe da garota, o que havia acontecido, ela teve um surto de pânico, como se nunca tivesse visto aquilo no quarto da garotinha. Ela acabou desmaiando e quando caiu, bateu a cabeça no chão com força e acabou entrando num estado de coma. O marido dela já estava internado por conta de alguns ferimentos que haviam acontecido num acidente doméstico e seu estado piorou quando soube da notícia.
Isso tudo acabou deixando Guilherme mais tenso e nervoso. Ele passou um dia inteiro na casa procurando pistas e as recolhendo. Por fim, escutou o começo da gravação da Caroline, que acabou não ajudando em nada.
Agora ele estava pensativo. Tudo aquilo em cima da sua mesa. O último caso antes das merecidas e sonhadas férias. Ele só pensava em terminar tudo aquilo de uma vez. Então pegou o gravador, o bloco de notas, e aquelas folhas rasuradas, estranhas e muito antigas, e foi embora da delegacia.
No caminho de casa, por vezes ele olhou para trás, com a sensação de estar sendo seguido e vigiado.
Guilherme teve pesadelos naquela noite.
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