Muitas pessoas perguntam porque eu moro sozinho, devido aos perigos que rodeiam minha cidade, quando eu posso economizar e continuar morando com minha família.

Fazem algumas décadas, o que achavam por ser um sequestrador de inicio e que logo se mostrou ser um seria killer, vivia por aqui. Ele capturava as vítimas e as levava pro porão da sua casa. As pessoas sumiam por dias, semanas. Depois elas reapareciam, mortas, com enormes hematomas no corpo e sempre com um corte em algum órgão ou osso importante do corpo.

O assassino operou por quase dois anos até ser pego. Alguns dizem que ele deixou escapar alguém, ou que ele deu com a língua nos dentes para alguém.

A história conta diferente:

Jones Carthener era um senhor de meia-idade, policial quase aposentado. Ele tinha uma mulher e duas filhas. A mais velha estava cursando medicina numa cidade próxima.
Jones foi a última vítima. E esse foi o erro do assassino.
Achar que estava acima de qualquer coisa.

Jones, homem esperto mesmo com idade avançada, acorda certo dia no porão da casa do assassino. Os relatórios dizem que ele estava sozinho e que ele conseguiu escapar do porão usando usando sua astúcia. Assim que o assassino chegou, ele armou uma emboscada e o capturou.
Isso era contado para o público e na mídia.

A verdade foi que Jones acordou livre. A cela aberta e o seu capturador o encarando havia alguns metros de distância. Não se sabe qual era a ideia do assassino, se ele tinha algum plano, ou quisesse confrontar o policial, ou mesmo quisesse mais ação no cativeiro.
Qualquer que tenha sido o pensamento logo foi esvaído pelo som de tiro e a dor aguda no seu ombro direito.

Vinte e cinco anos antes, Jones e seu até então parceiro de rua, estavam patrulhando a cidade. Seu turno era noturno, mas na maioria das vezes eles só precisavam dar sustos em garotos baderneiros ou casais aventureiros.

Entretanto, certa noite, eles avistaram o que era um início de roubo em uma loja e foram interferir. Eles viram bastões e alguns pés-de-cabra, então acharam que um pouco de rispidez e ameaças fosse suficientes. Enquanto alarmavam o grupo de rapazes e Jones prendia um contra a parede, ele acabou vendo um dos rapazes que estava sentado em um banco, puxar uma pequena pistola  de dentro da meia e atirar contra seu parceiro. No fim, seu parceiro se aposentou mais cedo, e o dispositivo foi apreendido. Era algo fascinante que chamou a atenção de Jones. Só podia dar um tiro, mas podia causar um estrago. Era uma pena que iria ficar para sempre na sala de provas do departamento de polícia.

Bem, isso se Jones não tivesse "pego emprestado".

Aquela arma escondida embaixo da sola do pé salvou Jones e acabou com um massacre que ocorria na cidade. Jones se aposentou como herói e viveu seu resto de vida menos pior que seus colegas.
Quanto ao assassino, nada relevado. Nem seu nome. A verdade é que ninguém soube. Não havia registros, suas digitais não batiam com nenhum registro. Era como se não existisse. Era como se fosse... ninguém.

Foi interessante a morte dele. Ele ficou apenas alguns dias na solitária até o encontrarem morto. A notícia foi que ele sofreu de um mal súbito. Outros levantaram a hipótese que os policias o teriam morto.

A verdade é que os órgãos dele simplesmente pararam de funcionar. Como se ele tivesse controle sobre eles.

E você me pergunta como eu sei de tudo isso?

Bem, é interessante como as coisas são não é?  Há uma história, a divulgada, em que a maioria acredita. Depois, há a outra história. Aquela que supostamente é a escondida. Ela é melhor feita, tem mais detalhes, maior carga. Essa é feita para a minoria que não acredita na história divulgada, que falam que o governo esconde a verdade. Essa também é feita para aqueles que acham que tem poder, que conhecem segredos. São eles que defendem como se fosse verdade, e isso que da credibilidade para a história.

E, claro, tem a verdade.

A verdade, a completa e absoluta verdade, essa quase ninguém sabe. A maior parte desses resolveu esquecer, ou fingiu que era mentira, ou nunca mais tocar no assunto.
A maioria deles já era velho na época e hoje estão mortos. Com exceção de mim. O assassino.
 Surpreso? Ah, você não sabe a melhor parte.

Na época eu havia achado umas anotações estranhas no meu porão. Anotações que pareciam ser do meu avô, sobre algo envolvendo família, maldição e morte. Quando vi aquilo eu não conseguia desassociar a demência que havia cometido o velho nos últimos anos de vida dele, portanto me desfiz das anotações. Logo elas voltariam como que para me assombrar.

Certa noite, um garoto que deveria ter oito anos apareceu na porta da minha casa tarde da noite. O garoto falou algo. Eu respondi. Mas não controlava o que eu falava. Percebi que não me controlava.
A primeira vítima foi o garoto. O levei para meu porão, ou ele me levou, eu nunca soube. Ele me ajudou a ajeitar tudo. Uma cela improvisada com uma antiga grade de garagem. Uma mesa feita de metal velho e enferrujado de uma carcaça de uma parte de um antigo carro que, com muito esforço, eu havia posto lá anos antes.

Me ajudou com tudo, com todos detalhes. Ele dizia o que fazer. E eu fazia. Por fim, ele se deitou no metal frio da cama improvisada. E eu o matei. Estrangulado. Ainda lembro de como foi horrível. Da sensação das minhas mãos naquele pescoçinho. Foi... foi algo que ainda sinto náuseas só de lembrar.
Toda semana alguém aparecia. Uma mulher jovem, um homem idoso, outra criança...

Não havia um padrão. Nunca houve. A pessoa vinha, e eu a matava. Acontecia algo depois, eu sei, mas isso eu nunca soube. Minha mente me bloqueia.. Talvez para me proteger.

Durante o dia eu não lembrava de nada. E quando chegava a noite, as memórias voltavam gradualmente, uma por vez, como se para eu reviver sempre as mesma sensações. Aquilo era um tormento.

Na última noite que tive aquele instinto assassino, a pessoa que foi até lá em casa era um policial. Mas você se engana se ele era Jones. Era um colega dele, que por sorte estava com seu canal de comunicação com a central aberto. Alguém importante ouviu nossa conversa estranha, e, com um grupo de policiais veio até minha casa.

Quando chegaram no porão viram uma cena inusitada. Indiferente às pessoas que estavam ali, minha vítima estava se despindo e se deitando, enquanto eu apenas esperava.

Eles tentaram ameaçar e de repente nós nos viramos. Nos disseram que ambas as feições estavam completamente desfiguradas. Como se não fôssemos nós. E logo descobrimos que não era.

Algo saiu da gente. Uma fumaça negra, espessa. Senti aquilo saindo de mim como se estivessem arrancando meu braço pelo nariz. Foi a pior sensação da minha vida.

Aquilo saiu e soltou uma espécie de grito que fez a casa tremer. A fumaça saiu da casa por uma abertura no tetoe foi embora, levando a vida do meu filho mais novo, que brincava logo acima.
Até hoje penso se meu bebê sofre como todas as almas que recolhi para aquela criatura.

Muitos anos se passaram e minha vida nunca mais foi a mesma. Me separei da minha esposa, mesmo com outra história sendo contada. Senti que minha esposa ficou aliviada. Acho que ela me culpava, pelo menos em parte, da morte do nosso filho. Ela morreu alguns anos depois, e meus filhos nunca souberam o que seu pai foi. E nunca nem irão.

Espero que essa carta seja o último registro dessa verdade incompreensível. Foi por essa razão que moro sozinho, isolado. Foi porque ninguém está preparado para a verdade. E talvez nunca estará.

Ainda sofro, todas as noites por todas as vidas que tirei, mesmo que contra à vontade. E ainda lembro nitidamente daquela criança de oito anos que tinha idade do meu filho mais novo. Talvez estejam num lugar melhor. Ou talvez não.

Minha única certeza é que essa criatura está lá fora. Assombrando outras pessoas. Ou esperando pra voltar pra mim mais uma vez. Nunca mais terei paz.

Com eterna culpa,
Jones Carthener


Revisado por: Rogers

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5 comentários:

  1. PARABENS msm .nossa
    eu fiquei muito surpresa esse historia é otima
    adorei

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  2. Agradeço em nome do Rogers, Brenda foi maravilhoso esse retorno do nosso amigo não acha? :)

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